Entrevista a Claudius Portugal publicada no site da Paulo Darzé Galeria sobre a exposição individual realizada nesta galeria

Claudius Portugal
13 nov. 2007
Salvador, BA Galeria Paulo Darzé Exposição individual Entrevista

2007 – Exposição Individual na Galeria Paulo Darzé, Salvador


Evandro Carneiro

Formas que por seus volumes e vazios, luzes e sombras, e uma geometria algumas vezes abstrata, nas suas superfícies lisas; formas compactas em límpidos espaços criados pelos cortes, eliminações e sínteses; formas que acarretam uma tensão entre tradição e modernidade; formas em seus materiais como o mármore, o granito, o bronze, a madeira; formas que fazem de Evandro Carneiro “um escultor que tem a consciência da mão e a entrega ao inconsciente do instante”, no dizer da escritora Lélia Coelho Frota.

1. “Queria ser um artista de formação clássica”. Esta é uma afirmação dada como sua, e dela podemos extrair uma primeira pergunta: o que é determinado na sua fala como clássico?

Clássico como o termo sugere indicam aprendizado e formação metódicos, obra equilibrada e harmônica, com sensível predominância da forma sobre o conteúdo, sem excessos de ornamentação, primando pela sobriedade.

2. Clássico, então, indica uma formação com domínio da técnica, saber o aprendizado, dominar a execução através dos ensinamentos que a história da arte e os mestres proporcionam pelo estudo?

Isto tudo o que você diz na sua pergunta, mais uma grande tranqüilidade de não ter que explodir e reinventar o mundo cada vez que fosse apenas desenhar para meu prazer.

3. Seguir este clássico indicava um caminho a seguir?

Não havia esta pré-determinação, apenas uma necessidade de aprender a fazer, mas são coisas que percebi hoje, na época fluía naturalmente.

4. Esta opção, logo quando de sua entrada na Escola Nacional de Belas Artes, em 1964, coincide com todo um momento de efervescência cultural e de um domínio das vanguardas, do experimentalismo na arte. Não foi esta opção uma contra mão no que estava sendo feito?

Naquele tempo eu buscava crescimento, o que em alguns é rápido, em outros lento, e em muitos nunca acontece. Este é um processo individual. Aos dezoito anos alguns fazem opções, a maioria como eu, apenas estuda. E todo o momento é de vanguardas e experimentalismos, porém em arte as coisas não são obrigatoriamente simultâneas, tangidas pela busca do original. Morandi passou sua vida inteira pintando pequenas naturezas mortas, despretensiosas e belas. Era contemporâneo de Picasso, Duchamp, Kurt Schwitters, Francis Bacon e quantos mais houver. Um não invalida o outro. Todos são extraordinários em suas individualidades. Nenhum deles trabalhou competindo com o tempo. Arte é atemporal, em todos os aspectos.

5. Na sua trajetória houve uma parada de trabalho, com retomada em 1987, com uma exposição, e disto passa a realizar esculturas em bronze, mármore, granito, madeira, diversos materiais “nobres” neste segmento da arte, e variedade de temas, com certa ênfase na estatutária grega. Este apreço ou escolha temática tem uma razão de ser? Economia expressiva? Despojamento formal? Há um motivo especifico para tal? Ou estas formas clássicas permitem uma execução que é necessária uma forte e sólida base técnica?

Tem minha grande identificação pela “economia expressiva” do “despojamento formal” pelo “motivo especifico” de ter “sólida base técnica” para utilizar “formas clássicas” em minha linguagem.

6. Hoje, passados quarenta anos, como sente ter dito esta frase, o que ela acarretou como definição para seu fazer artístico, opção estética, e como vê sua trajetória diante dela?

Esta frase confirma meu acerto. Após dezenove anos sem fazer esculturas ou um simples desenho sequer, retornei ao ofício sem maiores dificuldades, porque tinha régua e compasso.

7. Ao se falar em escultura “clássica”, logo vêm à mente os gregos, mas clássicos também os há na Renascença italiana e em outros períodos. Pode identificar na sua obra quais seriam então estes momentos clássicos que o influenciaram ou o influenciam até hoje? Ou, por um outro caminho, quais os clássicos que você tem como referência?

Admiro muito os gregos – tudo, dos cicládicos aos helênicos e clássicos e inclusive as pequeninas e frágeis tanagras; os retratos romanos, os renascentistas – aí a viagem é total: os Pisano, sobretudo Nicola e Giovanni “com suas cantorias”, Donatello e Verocchio. Estou fazendo já há alguns anos uma escultura que se chamará Colleomelata que se baseia e, humildemente, junta duas das mais extraordinárias esculturas eqüestres renascentistas. O Colleone de Verocchio (Veneza) e o Gattamelata de Donatello (Pádua). Gianbologna, Luca della Robia, Cellini e, naturalmente Miguelangelo que desconfio que fosse um E.T. Gosto muito do barroco Bernini e dos neoclássicos, Canova, Rude e Carpeaux. De Rodin e Medardo Rosso que conseguiu fazer, por incrível que pareça, esculturas impressionistas, coetâneas ao movimento francês, não no sentido da cor naturalmente, mas da leveza e evanescência. . Picasso escultor, sobretudo por suas assemblages entre 1910 e 1915, que abriram um enorme portão para tudo o que se fez depois: Archipenko, Lipchitz, Giacometti, Boccioni, Duchamp, Duchamp – Villon. Brancusi e Henry Moore. Gosto muito também dos italianos: Marino Marini e Giáccomo Manzu e dos americanos: Calder, David Smith e Louise Nevelson. Do espanhol: Chillida e do polonês Igor Mitoraj que vi dele uma grande exposição simultânea no Museu Archeológico e no Jardim de Boboli em Florença que me deixou de queixo caído, enfim gosto muito dos brasileiros: Brecheret, De Fiori, Bruno Giorgi, Maria Martins, Ceschiatti e Mary Vieira. Todos estes citados aí em cima para mim são grandes clássicos.

(entrevista concedida em novembro de 2007 a Claudius Portugal)