2006 - Exposição Individual na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Rio de Janeiro
2006 - Exposição Individual na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Rio de Janeiro
“Quando fiz minha exposição de esculturas na GB Arte, em 1987, a Márcia Barrozo do Amaral, então uma das sócias da galeria, sugeriu-me que eu organizasse uma exposição exclusiva de cabeças, já naquela época constantes em meu trabalho.
Passados quase vinte anos, a proposta se materializou. Selecionei esculturas de cabeças realizadas em diversos momentos de minha obra. Modifiquei, fiz cortes, agreguei e repaginei, reduzi algumas e ampliei outras, buscando dimensões e tratamento único, conferindo unidade aos modelos em gesso, para resultar nas mesmas textura e pátina, visando acabamento e fundição impecáveis.
A cabeça é o parâmetro mais antigo das proporções do corpo humano, equivalente ao pé na métrica greco-latina. Como referência de medida nas artes, utilizava-se, por séculos, a altura do corpo humano equivalente a sete cabeças e meia. Hoje, como o ser humano não para de crescer, calculam-se oito cabeças e três quartos para a altura do físico contemporâneo. Eu a vejo não somente como cânone, mas como centro de nossa existência de ser pensante. Além do que, tudo isso perdeu o sentido quando o artista, sobretudo a partir de El Greco, constatou que o corpo ideal já não atendia a suas necessidades de expressão.
Meu trabalho sempre foi figurativo, mesmo quando a figura quase desaparece nas simplificações que eu tanto gosto. Mas a figura sempre está ali. Costumo dizer que o corpo humano é meu alfabeto. Sempre recorro a ele em busca de novas soluções formais e, neste alfabeto repleto de seios, coxas e bundas, a cabeça é o elemento primordial, sua letra ‘a’.
Diferentemente do corpo humano inteiro, que se justifica por si só e que tem uma complexidade de soluções formais e inúmeros vetores plásticos facilitadores da criação, a cabeça, fechada em si mesma, precisa de um caráter, um temperamento e uma história convincente que a justifique na imaginação do artista. Mesmo que esta história seja efêmera e acabe no exato momento em que a obra é concluída. Para, então, começar sua grande viagem na cabeça dos que a vêem.”