Texto de apresentação no catálogo da exposição individual na Galeria Márcia Barrozo do Amaral

Evandro Carneiro
09 nov. 2006
Rio de Janeiro, RJ Galeria Márcia Barrozo do Amaral Exposição individual

2006 - Exposição Individual na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Rio de Janeiro


2006 - Exposição Individual na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Rio de Janeiro


“Quando fiz minha exposição de esculturas na GB Arte, em 1987, a Márcia Barrozo do Amaral, então uma das sócias da galeria, sugeriu-me que eu organizasse uma exposição exclusiva de cabeças, já naquela época constantes em meu trabalho.

Passados quase vinte anos, a proposta se materializou. Selecionei esculturas de cabeças realizadas em diversos momentos de minha obra. Modifiquei, fiz cortes, agreguei e repaginei, reduzi algumas e ampliei outras, buscando dimensões e tratamento único, conferindo unidade aos modelos em gesso, para resultar nas mesmas textura e pátina, visando acabamento e fundição impecáveis.

A cabeça é o parâmetro mais antigo das proporções do corpo humano, equivalente ao pé na métrica greco-latina. Como referência de medida nas artes, utilizava-se, por séculos, a altura do corpo humano equivalente a sete cabeças e meia. Hoje, como o ser humano não para de crescer, calculam-se oito cabeças e três quartos para a altura do físico contemporâneo. Eu a vejo não somente como cânone, mas como centro de nossa existência de ser pensante. Além do que, tudo isso perdeu o sentido quando o artista, sobretudo a partir de El Greco, constatou que o corpo ideal já não atendia a suas necessidades de expressão.

Meu trabalho sempre foi figurativo, mesmo quando a figura quase desaparece nas simplificações que eu tanto gosto. Mas a figura sempre está ali. Costumo dizer que o corpo humano é meu alfabeto. Sempre recorro a ele em busca de novas soluções formais e, neste alfabeto repleto de seios, coxas e bundas, a cabeça é o elemento primordial, sua letra ‘a’.

Diferentemente do corpo humano inteiro, que se justifica por si só e que tem uma complexidade de soluções formais e inúmeros vetores plásticos facilitadores da criação, a cabeça, fechada em si mesma, precisa de um caráter, um temperamento e uma história convincente que a justifique na imaginação do artista. Mesmo que esta história seja efêmera e acabe no exato momento em que a obra é concluída. Para, então, começar sua grande viagem na cabeça dos que a vêem.”