Texto do convite para a Inauguração do “Jesus Crucificado” na Catedral de São Pedro de Alcântara de Petrópolis

Afonso Arinos FIlho
27 jan. 1991
Petrópolis, RJ Catedral de Petrópolis Inauguração de escultura

“Tudo teve início quando o Verbo ordenou ao seu vigário em Petrópolis: ‘Vai, Frei Memória, e alça a minha Cruz na Catedral’. O bom frade, com a obediência dos eleitos, a inocência do seu Pai, Francisco, e a jovial mobilidade dos gordos, pôs-se em campo. O campo era o jardim da casa vizinha, onde outro Francisco*, atento às intimações do alto, transmitiu-as a Evandro, Pigmalião disposto, inspirado e apoiado pela disponível generosidade de Linneo**.

Inspirado, porém, na ‘calma, luxo e voluptuosidade’ de Matisse, na ‘luz mediterrânea” de Raul de Leoni, no equilíbrio, na tranquilidade, na ordem clássica de Fídias e Goethe traduzidos para a modernidade de Brancusi e Bruno Giorgi. O meu velho, caro e saudoso amigo Deoclécio Redig de Campos, director-geral dos Museus Vaticanos, referia-se ao ‘realismo ideal’ para definir tal ‘aspiração grega à justa medida, à perfeicão e à beleza.”

Mas era preciso batizar – isto é, resolver, convulsionar, subverter – a serenidade de Evandro a fim de torná-la merecedora de subir os degraus do altar. O seu novo modelo não viera para trazer-nos a paz. E o bronze helênico fez-se carne na bela ‘Maternidade’ no grupo eterno transfigurado até à divindade e à santidade em Jesus e em Maria. O menino cresceu, tornou-se homem. Alterou-se a escultura evândrica. Estavam, autor e obra, maduros para a Paixão. Frei Memória os abençoa a ambos, e o Crucificado de Evandro vela sobre os fiéis de sempre e de passagem, as crianças que vêm a batizar-se, os jovens noivos, as famílias, os imperadores adormecidos e esta memorável Petrópolis dos meus amores, dos amores de meus pais, dos meus avós, jóia florida de um Brasil passado mas sempre ancorado na esperança forte, no advento da ressurreição.”

* Francisco de Mello Franco
** Linneo de Paula Machado.”