Exposição Individual no Museu Nacional de Belas Artes

Rio de Janeiro, RJ
06 nov. 2001
06 jan. 2002

"Na obra de Evandro, a presença da mulher é avassaladora. Esculpidas em mármore ou granito, modeladas em gesso ou bronze, as mulheres reinam absolutas. Elas aparecem sentadas, arqueadas, de perfil, em repouso, classicamente apolíneas ou dionisiacamente barrocas, maternais, mas também lânguidas e fogosas, deixando-se consumir em marmóreas labaredas. Às vezes, são apenas torsos, reclinados, bipartidos, em conjuncão, formando dípticos e trípticos, desfilantes, empilhados, como índices numéricos. Ou cabeças, com ‘fundidos cabelos’, cacheados, trançados, de perfil clássico, helicoidais, ou que se fragmentam, ainda mais, em ancas graciosas e seios que se multilicam onírica e magritianamente sobre o corpo. Mulheres: japonesas, africanas, tigresas, sabinas, tanagras, siamesas, Eva-serpente, Eco clamando por Narciso, Vênus, Danielle, Marcella, Melania, Sirena, Anne, Patrícia. Neste universo densamente feminino, o homem é pouco mais que um apêndice, ainda que desfrutando de poder e força física: generais, centuriões, guardiães de algum obscuro templo, Narciso – que, surdo aos apelos de Eco, contempla sua própria imagem no espelho d’água -, heliastas reunidos ao nascer do sol, e Apolo, Dédalo, e Ícaro, e Midas, e Netuno, inexoravelmente presos aos seus destinos de seres mitológicos. Escultor de estirpe clássica, Evandro aqui também cumpre o destino que já havia sido traçado por Jorge de Lima em conferência que pronunciou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1935; buscar ‘o mais alto plano poético, que é uno, invariável, adstrito aos grandes temas, pois somente estes podem originar obras duradouras’." (Trecho do texto de Frederico Morais para o livro Criaturas, lançado por ocasião da exposição de Evandro Carneiro no MNBA, 2001).